domingo, outubro 29, 2006

Fangio foi o melhor de todos


Por Stirling Moss (traduzido por Pablo Medeiros)


Olhando os carros da atual Formula 1, eu não teria gostado de dirigir com toda a parafernália eletrônica que os pilotos têm hoje. Eu acho que isso diminui em muito a habilidade, outrora, necessária para equilibrar o carro.
Ser capaz de controlar as derrapagens e a tração, equilibrar o carro, e fazer o carro escorregar quando eu o queria, era uma experiência muito boa e gratificante.
Quando eu disse isso a Michael Schumacher, o qual eu colocaria em quarto lugar no top 5 de melhores pilotos, ele não concordou comigo. Ele explicou que a parafernália permitia a ele se concentrar mais na direção em si. Eu não consigo compreendê-lo, mas certamente ele tem credencial para provar sua afirmação. Entretanto, essa afirmação é a melhor justificativa do porquê é muito difícil comparar pilotos de eras diferentes. Outra justificativa é a importância do campeonato de pilotos. Quando eu comecei a correr, a única coisa que importava a mim era vencer a corrida do dia. Aí, começou-se a disputar o campeonato mundial e veio os grandes prêmios; maiores ainda do que ganhar corridas.
Isso é bom de certa maneira, mas nem sempre é bom para as corridas. Lembro-me bem do campeonato de 1956, quando dirigia uma Vanwall na última corrida em Casablanca. Eu tinha de vencer a corrida, fazer a melhor volta e Mike Hawthorn não chegar em segundo.
Eu venci e fiz a melhor volta. Mike estava em terceiro na ultima volta, quando Phil Hill, corretamente, o deixou assumir a segunda posição. O título sobreveio à corrida, o que acredito ser o certo. A segurança é outro aspecto. Aos 18 anos, um dos ingredientes mais importantes da corrida era o perigo. Coisas da juventude, eu acho. Felizmente, os carros e os circuitos de hoje são mais seguros, mas isso trouxe uma mudança na ética. Fangio, Clark, ou mesmo eu nunca teríamos nos empurado pra fora da pista, pois além de ser perigoso era considerado, época, jogo sujo; mas hoje isso parece ser aceito, ou mesmo, tolerado. Michael teve seus momentos negros, mas isso, hoje em dia é considerado integridade.
Por alguma razão, eu aceito “dirty driving” mais facilmente que trapacear, contanto que não seja perigosa. São coisas que acontecem no calor da disputa.
Mas a decisão de Michael de parar no meio da Rascasse para atrapalhar Alonso, não foi apenas premeditada, foi estúpida também.
Certamente, ele coçou o nariz, saiu do carro, jogou o capacete no chão. Nós deveríamos ter sentido pena dele!! Ele degradou sua imagem de campeão mundial.
Do meu ponto de vista, Juan Manuel Fangio foi o melhor que já existiu, mas eu sou tendencioso. Eu corri com ele e contra ele.
Eu sei quão rápido ele era, sempre, não importava o carro e em quaisquer condições. Eu podia vencê-lo nas corridas de carros de turismo, mas a F1 foi, e é, o topo. Eu o venci uma vez na F1, em Aintree em 1958, mas tenho certeza que ele não ficaria contando vantagem. Ele era humilde, um grande campeão, um cavalheiro.
Em segundo eu ponho o Ayrton Senna. Um homen de talento inato, que também teve seus momentos negros, mas morreu antes de ter podido mostrar sua verdadeira grandeza. Depois dele, ponho Jim Clark que era um piloto muito refinado. Com Colin Chapman na Lotus a ajudá-lo. Tornou-se imbatível.
Eu ponho o Schumacher em quarto. Ele mostrou quão rápido, consistente e talentoso ele é. Em quinto, fica Tazio Nuvolari. Um homem carismático que arrancaria todas as rodas de todos os seus carros... para vencer.


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